"Pela margem de um rio,ao sabor do capricho
Passeava uma garça, um respeitável bicho:
Três palmos de pescoço, mais um palmo de bico.
O dia estava lindo, e na água transparente
Andava a dona truta, aos pulos de contente,
Com a comadre carpa,ali, num bailarico.
Vinham à tona da água, tão alheias ao p'rigo,
Que se a garça quisesse era estender o bico -
Chamavas-lhe um figo.
Mas a garça antes quis esperar (grande pateta!)
Tinha a sua dieta,
E só queria comer à hora certa.
Dali a pouco, sim! O apetite aperta...
E chegando-se à margem, vê no rio
Fanecas em cardume, num vaivém.
Queria coisa melhor.Não lhe serviu,
E torçeu o nariz com desdém.
Foi então que achou uma enguia:
«Enguias? Que jantar para uma garça! .... Que iguaria!...
Não é comida que me satisfaça..
Abrir o bico por tão pouco? Tinha graça!»
Mas abriu-o por menos, afinal.
Dali em diante,tudo correu mal:
Não viu nem mais um peixe, por desdita.
E ela, que era esquesita,
Deu-se por satisfeita e regalada
De achar um caracol - uma coisa de nada!
Quem muito escolhe e é mau de contentar
Às vezes perde tudo. Vejam lá...
É sempre mais sensato aproveitar
O que a sorte nos dá." ( La Fontaine)
Vou...
Há 16 anos
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